O ano era 1982, ano de
eleições em todo o país, de presidente a vereador. Ano de copa do mundo com a
nossa Seleção Brasileira afinadíssima para fazer bonito nos gramados espanhóis,
como de fato fez, mas encontramos pelo nosso caminho rumo ao tetra um tal de
Paolo Rossi que sem dó nem piedade mandou de volta nossa canarinha antes do que
a gente esperava.
Mas o que me trouxe aqui foi um fato
acontecido na terrinha Sãozé nesse mesmo ano. Era festa da padroeira, as ruas
da vila enfeitada, a bandeira hasteada para o novenário de Nossa Senhora da Conceição, a igreja tinha tomado conta da festa, com barracas
para vender comidas típicas e bebidas que podiam ser provadas por homens e
mulheres, quentão e batidas de diversos sabores. No Beco de Tonheira onde dava
acesso a rua da palha, o padre mandou fechar para que fosse dançado no piso
encimentado o pastoril, que tinha sido ensaiado semanas pelos jovens da vila de
São José.
Na rua da palha morava Tião de
Juvêncio, habitante de destaque de nossa sociedade, um boêmio fanfarrão, um
verdadeiro lorde, tanto na beca como no palavreado, um ébrio a moda antiga,
bebia todos os dias por que sem ela a vida não tinha graça, dizia Tião aos seus
confidentes. O Beco de Tonheira era o caminho que Tião usava todos os dias para
se deslocar de sua casa ao bar de Zé de Cabrinha e estando esse fechado para a
dança do pastoril, Tião teve que mudar o percurso e dar um arrodeio por outra rua
para vim até o bar. Na vinda ele não resmungou, mas na volta, depois que Tião tinha
tomado todas e mais um pouco, ele não quis nem saber, chegou na entrada do beco
onde estava trancado com palhas de coqueiro e mandou que abrisse para ele
passar. O rapaz que tava na portaria mostrando autoridade que o padre tinha lhe
dado, falou pra Tião:
- Por aqui o senhor não
pode passar, a lei é do padre!
Nosso velho e inveterado
boêmio não se dando por vencido, fita o rapaz da portaria, vê que não passa de
um garoto, puxa uma faquinha de mesa que tinha na cintura, aponta pra ele e
diz:
- Abra logo essa passagem,
a leis aqui é a minha, a leis do padre num voga!
Por
Rena Bezerra
12/11/2015
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