sexta-feira, 25 de setembro de 2015

A DOENÇA DO CIÚME


A DOENÇA DO CIÚME
Autor: Rena Bezerra
Poeta e professor

 I
Seu dotô, seu coroné
Seu home da capitá,
Me iscute esse labacé
Que agora vou lhe contá,
Aconteceu no sertão
Numa noite de São João
Num forró do arraiá.



 II

Eu dançava com Raimunda
Num remelexo arretado,
Ela balançava a bunda
E eu num passo acertado,
Fazia tudo dereito
Quando eu vi que um sujeito
Tava mei inciumado.

 III
O cabra tava cum zói
‘Vermei’ que nem uma pimenta,
O ciúme lhe corrói
Que assoprava pelas venta,
Foi se achegando pra mim
E foi dizendo: -ô bichim?
Quero vê se tu me agüenta.

 IV
E eu falei sem demora
Não vim aqui pra brigar,
Mas tombem num vou simbora
Pro mode tu me insurtá,
Mais quero saber o pruquê
Do ciúme que você
Ta sentindo pela ta?

 V
O cabra me olhou de novo
Cum olhar atravessado,
Botando medo no povo
Com os zóião abuticado,
A Raimunda se tremendo
Saiu as pressa, correndo
Mais fiquei ali parado.

 VI
Ele vêi com um cacete
O cabra era atrivido,
Impurrei-lhe um tamborete
Pro riba do pé duvido,
Que o bicho caiu tremendo
E o sangue foi escorrendo
Era fei o destampido.

 VII
Nisso chega o delegado
Pra me prender sem motivo,
Eu ainda tava parado
Cuns miolo pensativo,
E falei sem cacoete:
-Prenda esse tamborete
Que esse bicho é agressivo!!!.

 VIII
O delegado pensou
Recantou-se, ficou só,
Aí outra vez vortou
Trazendo sua lei de có,
E falou num tom aceso:
-O tamborete ta preso
E continue esse forró.

 IX
Tiraro o cabra do chão
Lavaro cum água de sá,
Foi chegando a multidão
Vortaro logo a dançá,
A Raimunda avoroçada
Foi chegando na latada
Pra ser de novo meu par.

 X
Meus amigo aqui presente
Me ouça cum atenção,
Essa coisinha doente
Que penetra o coração,
Acontece de custume
E essa doença ciúme
É coisa do cramuião.


FIM

Nenhum comentário:

Postar um comentário