quinta-feira, 12 de novembro de 2015

AQUI A LEI NUM VOGA!


O ano era 1982, ano de eleições em todo o país, de presidente a vereador. Ano de copa do mundo com a nossa Seleção Brasileira afinadíssima para fazer bonito nos gramados espanhóis, como de fato fez, mas encontramos pelo nosso caminho rumo ao tetra um tal de Paolo Rossi que sem dó nem piedade mandou de volta nossa canarinha antes do que a gente esperava.
          Mas o que me trouxe aqui foi um fato acontecido na terrinha Sãozé nesse mesmo ano. Era festa da padroeira, as ruas da vila enfeitada, a bandeira hasteada para o novenário de Nossa Senhora da Conceição, a igreja tinha tomado conta da festa, com barracas para vender comidas típicas e bebidas que podiam ser provadas por homens e mulheres, quentão e batidas de diversos sabores. No Beco de Tonheira onde dava acesso a rua da palha, o padre mandou fechar para que fosse dançado no piso encimentado o pastoril, que tinha sido ensaiado semanas pelos jovens da vila de São José.
          Na rua da palha morava Tião de Juvêncio, habitante de destaque de nossa sociedade, um boêmio fanfarrão, um verdadeiro lorde, tanto na beca como no palavreado, um ébrio a moda antiga, bebia todos os dias por que sem ela a vida não tinha graça, dizia Tião aos seus confidentes. O Beco de Tonheira era o caminho que Tião usava todos os dias para se deslocar de sua casa ao bar de Zé de Cabrinha e estando esse fechado para a dança do pastoril, Tião teve que mudar o percurso e dar um arrodeio por outra rua para vim até o bar. Na vinda ele não resmungou, mas na volta, depois que Tião tinha tomado todas e mais um pouco, ele não quis nem saber, chegou na entrada do beco onde estava trancado com palhas de coqueiro e mandou que abrisse para ele passar. O rapaz que tava na portaria mostrando autoridade que o padre tinha lhe dado, falou pra Tião:
- Por aqui o senhor não pode passar, a lei é do padre!
Nosso velho e inveterado boêmio não se dando por vencido, fita o rapaz da portaria, vê que não passa de um garoto, puxa uma faquinha de mesa que tinha na cintura, aponta pra ele e diz:
- Abra logo essa passagem, a leis aqui é a minha, a leis do padre num voga!

Por
Rena Bezerra

12/11/2015  

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